domingo, 9 de maio de 2010

Colódio Húmido em versos


Charles Dodgson (Lewis Carroll) desenvolveu uma longa carreira de fotógrafo, de 1855 a 1880, estimando-se que terá realizado entre duas e três mil fotografias.E fê-lo recorrendo à técnica do negativo de Colódio Húmido.
Esta era uma técnica que exigia uma elevada destreza e uma curva de aprendizagem prolongada, com sucessivas tentativas e sucessivos erros, até ser atingido um nível regular e aceitável. Implicava que o fotógrafo se deslocasse com uma pesada câmara de madeira e o seu tripé, e impunha exposições longas (geralmente superiores a meio minuto), dada a fotossensibilidade dos materiais e a luminosidade das lentes então possíveis. Implicava ainda que o fotógrafo procedesse in situ à preparação das chapas de vidro com emulsão, em câmaras escuras frequentemente improvisadas, e que de imediato realizasse a exposição destas, bem como a sua revelação e fixação. A secagem da emulsão acarretava a perda da sensibilidade e a impossibilidade de captação da imagem.
Mais tarde, o fotógrafo podia proceder à positivação, por contacto, em papel de albumina, ou encomendar esse serviço a um profissional especializado.
A observação do trabalho de Dodgson permite confirmar que terá atingido esta difícil competência com alguma rapidez, desde os primeiros contactos com a técnica, em 1855, junto do tio materno, Skeffington Lutwidge, e do amigo Reginald Southey, até à compra da sua própria câmara, em 1956.
O equipamento de processamento químico de charles Dodgson encontra-se presentemente no Museum of History of Science, em Oxford, Inglaterra.

Equipamento necessário ao processo de Colódio Húmido, com as iniciais CLD, na tampa da caixa de transporte e arrumação,c. 1860,Museum of History of Science, Oxford, Inglaterra. 

Em  1871, Richard L. Maddox inventou um processo de cobertura de placas de vidro com emulsão seca, recorrendo à gelatina. No fim dessa década, o processo encontrava-se já industrializado. O fotógrafo podia então comprar placas fotossensíveis secas, já preparadas, e usá-las quando entendesse, deixando de estar limitado a prazos curtos de cerca de vinte minutos, como acontecia com o Colódio Húmido. Deixava, a partir dessa altura, de ter de se fazer acompanhar de toda uma parafernália, que incluía químicos, equipamento para os aplicar e, frequentemente, uma câmara escura portátil. A maior sensibilidade das emulsões de gelatina passou a permitir exposições bem mais curtas e câmara de mão tornou-se uma possibilidade. A fotografia passou assim a ser mais acessível e prática. Para muitos, com este desenvolvimento a Fotografia passou a ser "fácil". 
Há quem apresente (aparentemente sem nenhum dado objectivo que o confirme) esta “facilidade” como sendo a razão do abandono da prática da fotografia por Dodgson, neste preciso período. A sua prática, então “tão” facilitada, já não distinguiria de forma interessante um homem como Dodgson.
Se não se pode confirmar peremptoriamente que esta seja a real razão desse abandono, pode-se no entanto verificar que Charles Dodgson, perante a hegemonia do novo processo, sentiu necessidade de acrescentar alguns versos ao seu poema “Hiawatha”. Neles apresentava os procedimentos do método do Colódio Húmido, reforçando, relativamente ao texto original, o carácter de epopeia patética. Sentia decerto que, entretanto, este carácter se desvanecera um pouco com as novas chapas de emulsão seca.
Ei-los:

First, a piece of glass he coated
With collodion, and plunged it
In a bath of lunar caustic
Carefully dissolved in water -
There he left it certain minutes.

Secondly, my Hiawatha
Made with cunning hand a mixture
Of the acid pyrro-gallic,
And of glacial-acetic,
And of alcohol and water
This developed all the picture.

Finally, he fixed each picture
With a saturate solution
Which was made of hyposulphite
Which, again, was made of soda.
(Very difficult the name is
For a metre like the present
But periphrasis has done it.)

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